domingo, 5 de julho de 2009

Olhos de Alline (Bruno Galera)

Sempre admirei a habilidade de alguns poetas em fazer arte das coisas mais simples, cotidianas. Manuel Bandeira e seu eterno "Poema retirado de uma notícia de jornal" é um ótimo exemplo desse feito. Os olhos parecem tão comuns quanto uma notícia de jornal, não acham? Porém, acredito que o olhar guarda em si um irrevelável mistério: nossa alma; porque temos nos olhos o reflexo daquilo que somos. Eu me permiti nessa singela homenagem a uma amiga minha refletir um pouco sobre esse efeito enigmático e, ao mesmo tempo, revelador, que é descobrir no outro um pouco da nossa própria essência, dos nossos próprios mistérios. Não costumo escrever poemas, contudo aqui está uma tentativa à minha maneira de refletir sobre o quanto estamos ligados, mesmo que por um instante, mesmo que por um breve e súbito olhar.



Os olhos de Alline são um convite.

Um convite para admirar as delícias

[de ser mulher.

Não as de sentido carnal;

sim as do prazer em ser e de viver.

São olhos que a-guardam

[um mistério

Um encanto em cada canto

[escondido.

Está ali, esperando por algo

[que talvez nunca chegue.

Todo este segredo

talvez nunca se revele

(e nem é preciso).

Ao olhar, sinto e

[me desperto

Porque tenho

[mais vida.

Porque desejo

[algo mais

(mesmo sem entender o que),

quando estou diante

dos olhos

[de Alline.