Sempre admirei a habilidade de alguns poetas em fazer arte das coisas mais simples, cotidianas. Manuel Bandeira e seu eterno "Poema retirado de uma notícia de jornal" é um ótimo exemplo desse feito. Os olhos parecem tão comuns quanto uma notícia de jornal, não acham? Porém, acredito que o olhar guarda em si um irrevelável mistério: nossa alma; porque temos nos olhos o reflexo daquilo que somos. Eu me permiti nessa singela homenagem a uma amiga minha refletir um pouco sobre esse efeito enigmático e, ao mesmo tempo, revelador, que é descobrir no outro um pouco da nossa própria essência, dos nossos próprios mistérios. Não costumo escrever poemas, contudo aqui está uma tentativa à minha maneira de refletir sobre o quanto estamos ligados, mesmo que por um instante, mesmo que por um breve e súbito olhar.
Os olhos de Alline são um convite.
Um convite para admirar as delícias
[de ser mulher.
Não as de sentido carnal;
sim as do prazer em ser e de viver.
São olhos que a-guardam
[um mistério
Um encanto em cada canto
[escondido.
Está ali, esperando por algo
[que talvez nunca chegue.
Todo este segredo
talvez nunca se revele
(e nem é preciso).
Ao olhar, sinto e
[me desperto
Porque tenho
[mais vida.
Porque desejo
[algo mais
(mesmo sem entender o que),
quando estou diante
dos olhos
[de Alline.